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No trilho de uma espécie de felicidade

por Cláudia Matos Silva, em 24.03.14
Não fui uma criança feliz, infeliz também não. Frases feitas contam que os melhores momentos são os da infância, comigo não pegam, nem sequer os anos da adolescência são memoráveis. A infelicidade não é palavra a que possa dar um rosto de contornos definidos mas nos primeiros anos de vida, felicidade plena, não reconheço. O medo consumia-me, refém não me conseguia libertar, sair à rua, ver o mundo e as suas cores maravilhosas. A semana passada pisei as areias da Cova do Vapor na Trafaria, quem pode ser feliz num sítio assim? Eu teria sido realmente muito feliz se não vivesse subjugada pelos fantasmas que o destino me ofereceu como Fado antes de ser nascida. A Cova do Vapor está igual à das minhas memórias, a praia mantém-se, a porcaria também, e surpreendentemente lembrei um pequeno raio de contentamento naquelas paisagens. Anos 90, conduzida pelo velho Cinca amarelo com problemas de sobreaquecimento, chegava cedo ainda com uma brisa fresca. Mesmo que mal, aprendi a nadar com um bocado de esferovite, usei o primeiro biquini e sonhei um dia ser tão livre como os que via passar com tijolos ao ombro ouvindo até à exaustão as cassetes dos guns n' roses.

publicado às 09:22

O meu dentista deu-me os parabéns

por Cláudia Matos Silva, em 04.03.14
Não sei se mantenho pouca fé nas pessoas em geral, nos dentistas em particular ou especificamente na forma como administro a minha higiene oral. Facto é que já me estava a preparar para um daqueles cenários típicos que ouvimos das bocas, talvez menos sãs, entram com um dente podre e saem do dentista com a cremalheira toda em obras. Não é de hoje que oiço esses relatos, os balúrdios que se gasta nos dentistas e o facto do estado não comparticipar julgando a higiene oral como um luxo num sociedade que se quer evoluída. Há agora uma série de opções mais em conta para cuidar da boca, se bem que o uso diário de dentífrico e fio dentário são francamente de grande ajuda, mas a manutenção efectivamente deve ser feita por profissionais. O meu dentistaarticula planos de acordo com cada carteira, mas a verdade é que eu dificilmente acredito na boa fé, acima de tudo estes senhores que cuidam da nossa saúde são também vendedores de serviços, e esperava que na altura de me oferecerem a tão aguardada limpeza me revelassem um escabroso problema inadiável, daqueles de ficar com a pianola sem teclas. Mas eu já tinha resposta, uma viagem para Barcelona, desdentada ou não, obrigações e responsabilidades. Curiosamente, fizeram vários exames e no fim, os parabéns, preciso apenas de uma limpeza, marcada para dia 19 e gratuita como prometeram em Dezembro do ano passado. Fiquei aliviada claro, mas confesso, há um lado de mim, o que desconfia que me diz, na hora na limpeza haverá uma conversinha em particular e talvez numa análise mais cuidada do raio x, ali está ele, o problema, quase indetectável a olho nu mas que os grandes profissionais a que a minha boca está entregue assinalaram. Todo o cenário fica montado, uma aura de inquietação se mistura com alívio porque afinal de contas eu estou em boas mãos. 

publicado às 10:54

Pequenos traços de carácter...capilar

por Cláudia Matos Silva, em 24.02.14
Uma das muitas coisas boas em ser mulher, não nos melindramos por olhar umas para as outras, bem pelo contrário faz de nós atentas. Entre os homens, uma análise mais cuidada seja no balneário ou quando se enfrascam no tasco do bairro a ver futeboladasé passível de ter interpretações pouco abonatórias às respectivas masculinidades, que fazem questão de manter incólume. Nós mulheres borrifamo-nos para isso, vamos à casa de banho juntas, gostamos de nos olhar nuas, partilhar roupa e intimidades sem qualquer melindre. Uma vez a cabeça arrumada nada há a temer. 

Quando olho para uma mulher, se olho e muito, adoro vê-las de cabelos curtos e desordenados. Lábios bem torneados mas com um simples gloss, base bem aplicada, sombra discreta, o blush mesmo nas maçãs do rosto e ali vai ela emanando frescura e assim dá expressão à máxima que agora se lê nas redes sociais "less is the new more".

Cortei o cabelo, curto, num estilo tão inquieto como a minha própria psique, mas a melancolia dos longos cabelos ao vento afecta-me todos os dias. Lembro a variedade de penteados que inventava, criações de trazer por casa e que tantas vezes saiam à rua para causar sensação. E agora, o que me resta? Ponho ganchos, bandoletes, lencinhos mas nada parece resolver esta nostalgia dos longos cabelos. Então num casual café com E., diz-me apenas que mulheres de cabelo curto revelam carácter e personalidade forte e que dificilmente são confundidas com as demais que se misturam entre a fila para o metro ou na passadeira quando o sinal verde se abre. Personalidade nunca me faltou, e embora admita que o corte de cabelo mais não tenha sido que um acto precipitado, é sem dúvida reflexo do meu carácter às vezes irreflectido e taralhoco, sempre soube que não deixaram de gostar de mim por tão pouco.

publicado às 20:29

Sonhos vestidos a rigor para mais uma noitada

por Cláudia Matos Silva, em 24.02.14
Passo as noites a sonhar. Sonho a dormir, ferrada mesmo. São tantos os sonhos durante uma só noite, acordo transtornada, estoirada, cansada. Já me aconselharam a dormir com um bloco de notas e uma caneta ao lado da cama e assim anotar todo e qualquer sonho recambolesco. Mas são tantos e tão intrincados, perco minutos indinfáveis a descrever o que não tem explicação, a não ser que Freud me pudesse acolher no seu bolorento sofá verde. Vejo-me numa encruzilhada, ou durmo e sonho ou fico acordada a escrever, as duas coisas são incompatíveis para quem se quer com uma vida activa e útil. Escrever sobre os sonhos é escavar demasiado fundo no subconsciente, é pôr o dedo na ferida, lembrar que a consciencia não dorme sobre todo e qualquer dos nossos actos. Por isso o melhor de tudo isto é acordar, mesmo que drenada, mas com a certeza que cinco minutos depois como por artes magicas, nenhum dos sonhos consta na minha memória. É claro, à noitinha, quando as defesas estão em baixo, ele, aquele sonho terrível voltará, para me lembrar das minhas faltas. Porque os sonhos nada mais são do que as nossas sentinelas e as minhas vestem-se de negro e plumas. Não podiam ser uns sonhos quaisquer, ora essa. 

publicado às 09:48


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