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Então, vão matar o corpo?

por Cláudia Matos Silva, em 23.05.16

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Saímos de casa montados na bina, cheios de entusiasmo, como há 20 anos atrás prontos para esfolar os joelhos. Eu não pretendo chegar tão baixo na minha investida aventureira, mas conto com umas quantas medalhas nas pernas, fazem parte, porque coordenação e equilibrio nunca foram o meu forte.

 

Desta vez e antes de termos tempo de nos fazermos à estrada, ela cruza o nosso caminho, é uma boa senhora, mas um pouco à semelhança de todos nós não anda contente com a vida. Todos os dias, sem bina, lhe dirijo o meu sorriso de esperança, ela atira-me com uma ou duas inquietações menores e fica à espera que em 5 segundos eu lhe dê uma resposta mágica, sinto-me incapaz. 

 

Em cima da minha bina, mesmo trapalhona, sou afoita e atrevida, o oposto quando estou de pés no chão escutando passiva os problemas de quem vê em mim um bom depositório de 'minhoquices'. Mas na bina não estou para ninguém a não ser para mim, e é tão necessário esse momento egoista, que se a oiço travar-nos para dizer 'então, vão matar o corpo'? Deixo-lhe um sorriso inócuo e guardo egoisticamente os argumentos para mim, bem pelo contrário senhora, sinto-me cheia de vida quando me lanço à estrada. É tão simples, só com os pés nos pedais, sinto-me capaz. 

publicado às 12:13

O benfiquismo, esse sentimento que exalta a gente

por Cláudia Matos Silva, em 12.05.16

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(Imagem retirada de um anúncio do OLX) 

 

Quase quase amor à primeira vista, se não tivesse atirado a primeira 'padrada' anunciando o benfica como a sua paixão. Ripostei assumindo-me sportinguista, mesmo que de spontiguismo esmorecido falei-lhe do Dominguez e do Dany, pois ao tempo que isso já lá vai, conta-me, o futebol é outro e os futebolistas também. A verdade é que ele não quer deitar tudo a perder e deixa o assunto ir caindo para com os seus lindos olhos cinza me ludibriar entre assuntos tão mais do meu calibre como cinema europeu ou música dos anos 80. É efectivamente amor à primeira vista, sabemos agora, na altura é uma paixão avassaladora que não nos deixa tempo para dormir ou comer, dedicamo-nos a estar um com o outro, o dia todo e a noite também, e ele até perde um ou outro jogo do benfica, mas não me iludo. Sinto-o nervoso, irritadiço, às vezes frenético, outras apenas parvo, a insegurança leva-me a crer que é algo comigo, confessa-me que o benfica lhe altera os estados de espírito a ele como a mim própria 'o outro' benfica me deixa à beira de trucidar a população em geral.

 

Aceito as regras do jogo, não vale a pena competir com o clube, liberto-o, embora me questione a necessidade de ver absolutamente todos os jogos dos encarnados. Noto que há uma certa compulsão para o futebol, na tv alimenta-se apenas de canais de desporto como eu de cereais e bolachas. Não ligo, nem quero saber, mas respeito, às vezes até acompanho apenas com a presença física aproveitando duas horas do meu tempo para fazer coisas interessantes como enviar e-mails, actualizar o instagram ou pegar num livro há muito moribundo na mesinha de cabeceira. Sei que lhe agrada a minha companhia, a mim não me afecta acompanhá-lo nesta sua paixão, irracional. Questiono, no entanto, o gosto clubístico, mas sabemos que estas coisas não se escolhem, eu também não escolhi ser do sporting e nem por amor conseguiria mudar para o benfica.

E percebi isso no dia em que por superstição ele me leva a um boteco badalhoco para assistir a um jogo. Desconheço benfica contra quem, mas estou a favor de 'quem'. Sinto-o uma pilha de nervos, tem crenças, acredita mesmo, quando vê o jogo naquele pranto de desdentados e choco frito o seu glorioso vence. Eu fico inervada, a roupa tresanda-me a fritos, entornam-me uma cerveja em cima e começo a odiar todas aquelas pessoas, mesmo. Odeio-o a ele porque teve a indignidade de me enfiar naquele covil, ainda por cima sem wi-fi. Grita-se muito, estão sempre a dizer 'penalty', soltam-se perdigotos e as malditas cáries escancaradas mesmo diante do meu nariz. Perde benfica, perde, torço tanto e tão forte. Mas de súbito, nos últimos instantes o tal do Sanchez marca e eu sinto uma dor no peito quando todos se exaltam de satisfação. Eu não me movo, o meu rosto parece uma tela em branco, sem expressão mas sinto-me ferver. Ele reitera a importância de ali ver os jogos por questões de pura superstição, eu apenas lhe peço, se quer que a nossa relação continue a funcionar em harmonia e à prova de qualquer benfiquismo, ao menos quando eu estiver presente, assistamos aos jogos em terreno neutro.

publicado às 21:55


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