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É preciso deixá-los cair

por Cláudia Matos Silva, em 22.01.16

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Um dia como qualquer outro, sentada numa esplanada suburbana e tirando apontamentos do quotidiano à minha volta. Mesas cheias de gente com o pretexto da bica, mas sentia-se o 'bruá' de quem tinha muita necessidade de desabafar. Falava-se de vida, morte, amor, política, emprego e na maior parte das situações, desemprego.

 

Um casal distingue-se dos demais, observa a pequenita dando os primeiros passos. Continuam em amena cavaqueira enquanto a menina vai arriscando passo a passa, numa atitude irreverente, testando os seus próprios limites. Não chega longe, ao terceiro passo, cai. O impasse do costume, entre o silêncio e dois olhos redondos que se enchem de lágrimas, dá-se início ao berreiro. O pai não se aflige, a mãe mantém-se calma, sorriem com ternura. A menina continua no chão sem saber o que fazer depois do valente tropeção, mal sabe que ao longo da vida irá cair muitas vezes. O pai antecipa a resposta a uma pergunta ainda por verbalizar 'vá, agora levanta-te' diz, encorajando-a, dirige-se à menina. Ela levanta-se pelo seu pé, responde assertiva e desconfia que pela vida fora terá de se reerguer a cada queda. Por agora é tempo de colinho. O pai abraçando-a, leva-a para a mesa onde a família a acolhe com ternura.

publicado às 08:37

A vida numa agenda

por Cláudia Matos Silva, em 06.01.16

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A desorganização faz parte da forma como me organizo em sociedade. Não consigo ser de outra forma, mesmo que prometa mudar, transformar-me na mais apreciável fada do lar, uma agenda impecável e infalível, a mala num aprumo e as gavetas arrumadas por categorias, cores e o diabo a sete. Há até workshops para ensinar-nos a melhor organizar o tempo, mas se sou feliz na balbúrdia de que vale receber lições de moral e ainda pagar no fim.


As coisas escorregam-me das mãos, tropeço na perna de um banco, cai-me uma meia no prato com a água dos gatos. Mando umas 'carvalhadas' porque a minha costela beirã não deve ser contrariada, tal como não devemos contrariar os caprichos do nosso intestino, ensinou o meu pai. Respeitar a natureza de uma mulher caótica é meio caminho para uma convivência feliz. H. sabe disso, então respeita a loiça que se acumula por lavar, e às vezes arregaça as mangas e dá-lhe com o Fairy. E se a nossa estória não é uma 'fairy tail', o quotidiano que partilhamos entre quatro paredes dava uma 'sitcom' entre as agruras de um adolescente borbulhento como o Adrian Mole e a palermice exacerbada das personagens do 'Friends'.

 

É claro, no melhor pano cai a nódoa e comprei uma agenda, tentando nos meus próprios termos, evitar desperdício de tempo fazendo coisa nenhuma. É forrada a tecido, porque as coisas têm mais pinta quanto mais artesanais e esta é uma criação da MJ. Dentro do coração gigante, não se agiganta uma lista de coisas terrivelmente importantes para fazer. Fico-me pelo que me oferece a espuma dos dias, e agora noto, não é pouco. Hoje cumpri criteriosamente a minha 'agenda' e sinto-me estafada. Não sei por quanto tempo serei conduzida pelos marcações que se encavalitam entre as linhas, mas como gosto pouco de me cansar, desconfio, daqui a uns dias é vê-la abandonada e com muitas folhas por escrever.

 

A minha vida, com ou sem agenda, continuará a escrever-se, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, segundo a segundo.

publicado às 20:08

Só porque não viro costas ao desconhecido...

por Cláudia Matos Silva, em 05.01.16

O ano passado a Curly aos Bocadinhos lançou-me um desses desafios da moda. Por acaso na adolescência, fazia o mesmo num caderno com argolas, as perguntas teriam de ser respondidas por amigos e colegas de escola. Seria giro recuperar um desses registos, lembro-me até da pergunta 'conta-me um segredo' e um rapaz sádico com a mania de ser esperto escreveu 'hás-de morrer careca'. Aguardo pelo veredicto. Fico, no entanto satisfeita, pela Curly se ter lembrado de mim. Dizem nunca é demasiado tarde, e por isso aceito o desafio, numa de resolução 2016, nunca virar as costas ao desconhecido. Aliás, a Curly deu o exemplo, uma das resoluções dela para 2016 é encontrar-se comigo. Finalmente.

 

As Frases:

 

Sou muito 'manienta' / 'niquenta', sim tenho manias, muitas. Manias que muitas vezes não devem nada à coerência. Sou (muito) estranha à brava. 

 

Não suporto tanta coisa. Posso começar: discussões, pessoas a falar alto, multidões, barulho, trânsito, machistas, pessoas sem sumo e a maior parte dos conteúdos postados no facebook. Há mais, mas assim já dá para perceber que por não suportar tanta coisa, também eu sou bastante insuportável.

 

Eu nunca beijei uma mulher, tudo o resto acho que já fiz, quer dizer...também nunca fiz 'swing', nem 'ménage'...ora bolas, estou a levar a resposta para o caminho do pecado. Talvez porque tenha feito muito pouco, o que na prática é nada.

 

Já me zanguei sem razão nenhuma. Sou muito boa nisso, devia até ser considerado um item para valorizar o meu curriculo vitae.

 

Quando era criança meti os dedos na ficha eléctrica só para saber como era. Como manifestar a minha experiência? Electrizante, no mínimo.

 

Neste exato momento tenho o meu gato Benjamin em cima das minhas pernas, pedindo atenção. Confesso lancei uma bufita (fedorenta) mas o raio do gato ama-me a valer, mantém-se estoicamente entre as minhas entranhas. 

 

Morro de medo podia dizer morte, mas é obvio e redundante o mesmo seria 'morro de morte morrida'. Na verdade morro de medo de não voltar a exercer profissionalmente a única coisa que sei fazer. 

 

Sempre gostei da solidão. Adoro fazer as minhas rotinas, absolutamente sozinha, sabendo no entanto que em casa me espera o calor dos braços de H. e o afago das patitas de unhas afiadas do Benjamin e do Rusty.

 

Se eu pudesse não é bonito dizer, mas há umas quantas pessoas que me estão 'atravessadas', mas se eu pudesse o que lhes faria? Não sei. Portanto, positivando, se eu pudesse deixava-me de tretas, evitava a auto-crítica (porque castra-me como um policiamento feroz) e escrevia um livro como deve ser.

 

Adoro comer, comer e comer.

 

Fico feliz quando os meus sorriem e me fazem sorrir de verdade. 

 

Se pudesse voltar no tempo não voltava. Não tenho saudade nenhuma do que já foi. Hoje sou e estou melhor em tudo. Até no 'botá'baixo'.

 

Quero viajar acima de tudo conhecer os lugarejos em Portugal. Não sou de grandes destinos, exotismo e multiculturalidade, se assim for no Martim Moniz há muita, não preciso gastar o que não tenho para conhecer outra cultura. Por isso, e por menos interessante que pareça,  voltar a Londres era bom, ou conhecer Amesterdão e andar de bicicleta pela cidade também não devia ser mau. Por hora passeio de bicla em Cacilhas, é quase a mesma coisa, não é?

 

Eu preciso de um 'gandaaaaaaaaa' tacho. De outra forma isto não vai lá.

 

Não gosto de ver mulheres acima dos 50 a comportarem-se como se tivessem 15 e quisessem recuperar a adolescência perdida. Teria sido mais bonito dizer, não gosto de ver crianças a morrer de fome, mas é óbvio, quem gosta?!

 

Curly, vamos lá marcar o café.

publicado às 21:00

A vida em saltos altos

por Cláudia Matos Silva, em 04.01.16

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Atenção, não foi um simples malho. Não se pode incluir na lista das escorregadelas em casca de banana ou tropeções, muito menos um 'bate-cu'. Um monumental tralho dos que nos melindra o ego, ruboriza as faces com direito a joelhos esfolados e o cabelo em desalinho. Não esquecerei, uns lindos sapatos de plataforma, vermelhos, comprados na Aldo. Os meus primeiros (e últimos) sapatos na Aldo. Na bela Lisboa dos arrumadores entre carros estacionados em cima do passeio e uma calçada tão caótica que só poderia ser chamada de portuguesa, o meu nome não é Inês, nem vou pela verdura, mas assumo-me formosa porém insegura. A cidade fica rendida a meus pés, todos observam o meu pequeno pé de gueixa, apertadinho, mas com o passar das horas o que antes sabia a aconchego bom, agora é como se o diabo me lancetasse os calcanhares com a maldita forquilha.

 

Ai, eu não estou nada bem, mas não cedo. Uso do truque de auto-defesa 'o meu rosto é uma folha em branco' e não se passa nada. Os meus passos são de caracol, o meu destino fica ainda tão longe, apetece-me na verdade fazer como a minha avó, ir descalça e com a troxa em cima da cabeça. Hoje parece uma loucura mas é imagem que guardo dela, fazendo tantos quilómetros sempre de pés nús. E eu fui tão forte, não cedi ao pé descalço, mas senti ao que sabe o poder devastador de um mau calçado.

 

Desde então, e porque os ténis estão na lista de qualquer 'must have' e não tem forçosamente a ver com uma vida desportiva, investi no conforto. Aliás os 'sneakers' têm andado nas red carpets e os meus pés não são menos dignos deles, mesmo que não se estenda uma passadeira vermelha à minha passagem. A verdade é que já tinha ouvido bocas de quem outrora me conhecera 'altaneira' de saltos agulha 'andas atarracada, pá'. E lá vinha a estória de uma queda tão aparatosa cujo resultado serviu para guardar os saltos altos em caixas bonitas como quem esconde uma relíquia.

 

Não tomem o meu retorno aos saltos altos como uma resolução do novo ano, mas o apaziguar da dor e humilhação. Colecciono dores com vários formatos e texturas, cola-se à pele alguma humilhação por situações ainda por superar, mas julgo para mim, os saltos altos fazem-me avançar em alto estilo. Ando devagar, atenta, umas vezes colo os olhos no chão, outras fico com o nariz apontado às nuvens, mas que ninguém me tire os meus saltos altos.

publicado às 14:48

Bons comportamentos geram bons sentimentos

por Cláudia Matos Silva, em 04.01.16

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'...Há quem adore a altura das festas e quem as odeia na mesma proporção. Para os que não têm famílias grandes, nem perfeitas como nos anúncios, o Natal pode representar uma pressão imensa, que muitas vezes resulta em frustração e tristeza. Não se esqueça de duas coisas fundamentais: as festas terminam ao fim de duas semanas; e além disso, marketing é só marketing.

 

O Natal é a festa da família, dizem-nos, e as famílias não são perfeitas. Ao contrário dos anúncios, com famílias sorridentes reunidas à volta da mesa de Natal, na vida real estas são cada vez mais pequenas e complexas.

 

Já no fim do ano, a pressão é de natureza diferente - a da "obrigação" das pessoas se divertirem. E todos os que não tiverem planos para participar numa festa numerosa e grandiosa parecem estar a passar ao lado do propósito geral. Para os que se deixam abater por isso lembramos "as festas são mesmo, quando uma pessoa quer, e não porque vêm marcadas no calendário. Não temos de nos divertir apenas porque nos mandam divertir".

 

Sobre as fagimeradas "resoluções de ano novo" aconselha-se: é mais útil uma boa resolução de ano novo reflectida, que se implemente de facto, do que um rol de desejos que nunca se põe em prática. 

 

Fazer todos os dias o melhor possível para que tudo corra bemé um acto muito mais inteligente para a vida do que depositar expectativas numa só noite. Fica o recado "bons comportamentos geram bons sentimentos". 

 

(Expresso)

publicado às 11:54


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