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Estava uma mula em cima de uma égua, e esta hem?

por Cláudia Matos Silva, em 30.01.15

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Há pessoas que sabemos à partida, nunca haveremos de gostar, é o caso de I. É uma boa rapariga, julgo até que me aprecia o jeito, mas o sentimento não é recíproco. I. é completamente descompensada, grita com toda a gente, usa de um vernáculo que nem nos meus sonhos mais selvagens me ocorreria, vende flores como se fosse petinga, locuta como quem solta o pregão. Tem no entanto a melhor de todas as qualidades, é frontal, comparo-a com uma automotora, leva tudo à frente sem hesitar, no entanto, e pelo estardalhaço toda a gente já sabe ao que vai e ninguém se pode sentir enganado com o temperamento desmedido de I. Aliás, parte desse destempero refina-lhe o sentido de humor, constatei num casual encontro, contava-me as suas teorias da conspiração, mas não são umas teorias quaisquer. I. é do campo, gosta das tradições populares, dos touros e toureiros, não é de estranhar que ande sempre metida em touradas. Na sua quinta, parte muitas vezes de carro à capital ou pela bela planície montada numa égua. É do topo da bichana que tantas vezes pensamentos complexos e intrincados bichanam-lhe ao ouvido e o maior problema de I. é dar-lhes ouvidos. Enquanto assim for estaremos nós dispostos a escutá-la com uma ruga entre os olhos, no que ela julga ser expressão de condescendência. E no fundo até é, condescendência por nós próprios, que apesar de tudo, desencantamos réstias de paciência que pensavamos totalmente esgotadas. 

publicado às 18:15

A vizinha do 1º leva na marmita

por Cláudia Matos Silva, em 30.01.15

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Não gosto de vizinhos, muito menos dos meus. Se pudesse viveria num desses prédios abandonados que ultimamente tenho visitado e fotografado. Por lá, restam mantas rotas, garrafas vazias e bocados de cartão ensopado, prova de que houve presença, mas que não se estendeu por muito tempo. No meu prédio, falo apenas comigo, hábito de filha única o de palavrear com os botões, as flores, os cães rafeiros ou os calhaus da rua, definitivamente não falo com os vizinhos. Há no entanto uma excepção, a senhora do 1º andar, que passeia várias vezes ao dia a cadelinha, Laika. Gosto dela, já o meu pai a aprecia, não é pessoa de se meter na vida de ninguém ou de falar mal. Cruzamo-nos várias vezes, evito-a porque sou estúpida, a senhora é encantadora e não há motivo para ignorá-la. Hoje não pude fugir, sentada no café, escrevinhava no meu diário amarelo 'bling bling' e a senhora de permanente cuidada e umas nuances discretas, sentou-se na mesa ao lado a almoçar. Não contei o tempo, mas pelo menos uma hora ali estivemos, a conversar. Falámos de problemas, as vidas cheias de problemas, os nossos e os dos nossos. E soube-me tão bem, aquele momento terreno em pé de igualdade com os demais, em vez de me pôr em bicos de sapatos numa qualquer nuvem fantasiosa, reflexo não só do meu premeditado autismo, mas principalmente do meu inequívoco egoísmo. As borras do café ressequidas na minha chávena foram o toque de saída, era tempo de me levantar e deixar a senhora, enquanto carregaria comigo o prazer de um momento que se prolonga até agora, enquanto vos escrevo. Oiço-a queixar-se, havia demasiada comida no prato, sugiro que leve para o jantar, afinal, já passámos aquela fase de provincianismo dissimulado em que se dizia à boca pequena não ser de bom tom pedir para embrulhar a comida que pagamos. Aceita a minha sugestão,  gesticula ao funcionário e ordena 'ponha-ma na marmita'. 

publicado às 11:21

O moço de recados casou-se

por Cláudia Matos Silva, em 29.01.15

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D. não era moço de recados mas todos os dias recolhia uma catrefada de pedidos dos colegas. Às 9 da manhã tinha por costume ir ao café tomar o pequeno almoço, e regressava 15 minutos depois com o bandulho transbordante em productos lácteos e as mãos atravancadas de sandes mistas e pequenos recipientes com café. O fadário de D., nunca se queixou, mas sentia-se num certo silêncio o incómodo da situação. O trajecto diário exactamente o mesmo e o pobre D. descida a rua de mãos a abanar, olhava para a vidraça da loja do avô, alcançando uma bela morena que lhe sorria. Se o caminho de volta era penoso e sem mãos a medir para tantos pedidos, D. ainda tentava espreitar para dentro da loja e trocar olhares com a doce morena de olhos cor de carvão.

 

Tantas semanas e quase parecia um amor platónico, D. subia e descia a rua apenas para olhar a desconhecida da loja do avô. Mas, de amores desavindos, D. tinha no coração a tatuagem do que sempre disse o seu primeiro e único amor,e dizia-me como se fosse uma donzela enamorada e púdica 'enquanto gostar dela não terei mais nenhuma, não vou consporcar este sentimento.' E assim foi, mas isso não impediu D. de num dia, aparentemente como outro qualquer, entrar na loja para fazer estremecer a morena de olhos profundos e dizer-lhe apenas que era uma linda mulher. Saiu disparado, sem aguardar resposta, mas aliviado. Urgia partilhar o quão bem lhe fazia, observá-la diariamente, enquanto no trabalho os colegos o tratavam como o moço dos recados, fazia-lhe tão bem que ela merecia saber disso.

 

Não é propriamente uma história com um final feliz ou principesco, mas convencional. D. casaria um ano depois com a verdadeira dona do seu coração, o primeiro e único amor, imaculado, cujo sexo há muito a caminhar para o 'médio menos' haveria de regredir ao menos zero. De notar que a regra se quebrava quando se lembravam, enquanto casal havia outro passo a dar, mais um degrau a subir, a paternidade. A maior parte das vezes ela pousava apenas a cabeça no ombro dele, imersos no profundo marasmo, D. cheirava os cabelos da sua amada e perguntava-se em segredo, se havia chegado ao fim da linha.

publicado às 21:57

Vamos todos ao Cinema Ideal

por Cláudia Matos Silva, em 29.01.15

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O Cinema Ideal reabriu o ano passado absolutamente renovado. Durante anos chamou-se Cinema Paraíso, aliás sítio que de paradisíaco não tinha nada, a não ser para alguns sem abrigo que pelo simbólico preço de um bilhete de cinema podiam encontrar um tecto, mas era certo e sabido, pelo caminho haveriam de tropeçar em mais qualquer coisa, geralmente surpresas um tanto bizarras. Era difícil quebrar com uma tradição tão longínqua, enraízada nos locais que iam para o Paraíso confraternizar e acrescentem-se aspas à palavra, confraternizar, porque neste caso é um conceito por demais lacto.

 

A equipa que resolveu criar o Cinema Ideal, tinha bem presente um espaço num dos locais mais previligiados de Lisboa, nobre até, que o turista pode ver e fazer usufruto, mas o objectivo não era um espaço para inglês ver mas para o lisboeta desfrutar, trazendo o cinema ao centro de Lisboa. E para isso foi preciso, sem aspas, escavacar. Muito tiveram de partir, tudo, diga-se. Do que foi o Cinema Paraíso não ficou nada, e no que é realmente o meu cinema Ideal, (não apenas de nome) ficou um paraíso à média luz de portas sempre abertas para me receber. Posso apenas beber um cacau quente, ler uma revista, ou assisto a um clássico que nunca vi como 'O Grande Ditador' de Charles Chaplin e agora em cena, ou para algo completamente diferente, o novo de Jean Luc Godard 'Adeus à Linguagem', e claro há sempre lugar para a produção nacional, a bandeira do Cinema Ideal.

 

Não há pipocas na sala e as pessoas sentam-se com a reverência de tempos passados, respeitam aquele espaço, mimam-no. Há crianças, acompanhadas pelos pais, há idosos de andarailho acompanhados pelas esposas e filhos, há fadistas de fama ou hypsters em bando. Há gente, muita gente que ruma ao cinema Ideal. Entram e vivem o espaço. E depois cá fora, há quem não se atreva a entrar, ficam do outro lado do passeio, melancólicos, a sonhar com o que um dia foi o Cinema Paraíso. 

publicado às 11:13

'While you're trying, we're dying'

por Cláudia Matos Silva, em 21.01.15

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 'While you're trying, we're dying', citação do filme 'Boyhood', uma das sensações nos Óscares deste ano, um filme que nos desafia a compreender a vida. Se minutos antes, Mason, o miúdo que vemos crescer diantes dos nossos olhos durante 10 anos é chamado à atenção pelo chefe pela sua ineficiência, quase a chegar aos 18 anos tenta compreender o propósito de 'tudo isto'. É assim mesmo que se expressa 'tudo isto', a vida, presume Tommy, o pai, veste a pele e bem, Ethan Hawke. Num beco sem saída Tommy responde ao seu estilo ' sei lá', e se a início balbucia baralhado pela proporção inesgotável de uma simples pergunta, logo depois percebe, como pai deve-lhe uma resposta sincera. 

 

'While you're trying, we're dying', exaspera o chefe do restaurante onde Mason trabalha, ao seu ritmo, sempre com a cabeça nas núvens e um olhar sonhador. Verdade seja dita, andamos todos a tentar qualquer coisa, e nem sabemos bem o quê ou a finalidade, mas insistimos e tantas vezes somos miseráveis nos caminhos que trilhamos ou que gostaríamos de trilhar.

 

Patrícia Arquette, e o papel de mãe, vê-se confrontada com o vazio, os miúdos crescem e é preciso soltá-los. Parece uma tarefa fácil. Depois de tantos anos a preparar-se para o grande momento de estar a sós com as paredes da sua casa, uma caminhada tão longa e penosa, vê-se sem propósito e no olhar perdido também se questiona o significado de 'tudo isto'. 'Agora aguarda-me a morte', grita melodramática e quase sorrimos, pelo exagero, palavras na boca de uma mulher charmosa e na ternura dos 40, a mulher que não escolheu ser mãe, mas que não poderia ser qualquer outra coisa.

É preciso sentir, lembra Tommy a Mason, apreciar cada momento, remata a sua nova colega de faculdade, mas sentados no deserto debatem-se com outra questão existencial; quando começa um momento?;  Em que instante pudemos dar um momento como finalizado?

 

O momento é agora, basta desfrutá-lo. 

publicado às 20:11

Começar o dia com um bilhetinho

por Cláudia Matos Silva, em 19.01.15

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A. vive na mesma rua que eu há pelo menos um ano, mas só dei por A. há umas semanas. Somos amigas do facebook, palavra forte 'amigas' para quem nunca se havia cruzado na vida real. Mas, mesmo que A. não seja minha amiga, na realidade, nem eu amiga de A., gosto dela desde o primeiro dia. A. é pragmática e nada dramática, mas que ave rara é esta que não precisa de drama como de oxigénio para respirar? E falo de uma fadista, uma fadista com sentido prático das coisas e sem um 'xiripiti' de melancolia é coisa rara, e por tal descoberta guardo-lhe com estima os sentimentos que me brotam. Para A. tudo parece estar bem, mesmo quando no fundo não está, não é fachada, mas uma forma de contornar as dificuldades. Ela não se permite ir abaixo porque tem uma menina a quem faz questão de dar o mundo. A. é uma mulher linda, por fora mas muito mais por dentro, não fala mal de ninguém e está sempre à procura das pontas soltas para positivar. Hoje, passei pelo carro dela, azul eléctrico, estava tão mal estacionado, mas não foi por isso que lhe deixei um  bilhetinho no pára brisas. Foi apenas um gesto para lhe alegrar o dia, com uns bons dias cheios de ternura, hoje que se inícia uma semana, sei que A. sorriu e disse 'aquela marota'. A mim, a marota, o meu coração transbordou, porque é melhor gostar das pessoas e dizê-lo sem medos, do que acumular ódio e recentimentos pelas injustiças a que somos sujeitos.

publicado às 08:46

A noiva de Frankenstein usa pijamas Mira

por Cláudia Matos Silva, em 16.01.15

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Uma mercearia de aldeia e preços exorbitantes, entro preparada para abrir os cordões à bolsa. Não estaria, no entanto, preparada para conhecer a noiva do Frankenstein, não falo da personagem que Valerie Hobson encarnou na tela, mas a verdadeira, a assustadora Cilita. Que nome tão meigo para uma mulher aterrorizante. É pálida, macilenta, olheiras profundas e negras, no cabelo uma permanente de há 50 anos atrás e o efeito tufado com a ajuda da laca, de resto, também a vende na sua pequena mercearia. A criação de Frankstein de Mary Shelley, um dos livros que mais apreciei o ano passado, não teve sorte nenhuma. As pessoas gostavam de Frankenstein até lhe conhecerem os traços, mas esta eterna noiva, sofre da diabetes entre outras maleitas, arrecada a estima sincera dos habitantes da sua aldeia. Cilita, também quer bem a toda a gente, por isso recomendou-me um pijama Mira, marca extraordinária, afirma, em pijamas não há melhor. Cilita convence-me, há dez anos com o mesmo pijama e nem um borboto. Depois de lhe pagar 25 euros pelo que não é um pijama especialmente quente, reflicto. Borbotos não é assunto que me ocupe o espírito, mas o assalto à minha carteira, na qual nem um cêntimo sobreviveu a servir de testemunha, é memória que deverei levar comigo para as masmorras, onde tenho encontro marcado com a noiva de Frankenstein e, nessa altura, quem sabe um acerto de contas.

publicado às 20:06

Parabéns Kate!

por Cláudia Matos Silva, em 16.01.15

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41 anos, Kate Moss atravessa hoje  a meta dos 'quarenta e picos'. 

É camaleónica, a miúda que curte rock n' roll à moda antiga, onde se incluem 'sexo e drogas' para alguma da sua desgraça. Mas Kate não é a imagem de uma mulher desgraçada, bem pelo contrário, supera-se em cada um dos desafios, profissionais ou amorosos, a idade faz-lhe tão bem. Se encabeçou no início dos anos 90 o movimento 'heroin chic', título que ainda carrega, a nós raparigas comuns deu-nos esperança. 'Less is more' aprendo em tenra idade, tentando compreender o que havia de especial na que podia ser a minha vizinha do lado. 

publicado às 19:46

Dos afectos que ilustram a minha vida

por Cláudia Matos Silva, em 12.01.15

Gosto de ilustração, apreciar o trabalho dos artistas portugueses, e fiquei agradavelmente surpreendia com o rosto que nesta segunda-feira a sapo me apresenta. Já tive a sorte de ver crónicas minhas ilustradas pela Braulio Amado ou Vanessa Teodoro a propósito da minha colaboração na revista Parq. Um dos meus ilustradores favoritos é o Nuno Saraiva, porque é atrevido, às vezes descarado, e dono de uma imaginação que não tem limites. 

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Porque 2014 foi um péssimo ano em termos pessoais, e 2015 arranca com uma catástrofe em termos globais, sigo o trilho dos afectos para vos revelar uma das pessoais mais interessantes que conheci o ano passado e por isso, não vou pegar numa borracha e apagar completamente o ano que passou. Simplesmente Inês, é pequenina de estatura mas com grandes ideias, e sei que a esperam altos vôos. Tem apenas 19 anos, mas quer-se fazer mulher demasiado cedo, é a minha convicção nas primeiras abordagens à doce Inês. Em poucos minutos, a minha teoria cai por terra, ela não precisa de se pôr em bicos de pés ou usar saltos altos para ser uma mulher. A Inês é uma menina crescida, e o adjectivo de menina fica-lhe tão bem, mas não posso negar pelo pragmátismo, objectividade, pela energia revitalizante a Inês fez-se mulher mais cedo que as demais da sua idade. Os seus planos são tantos que não lhe cabem todos numa mão, ou em duas, sequer. A mulher dentro dela fará a proeza de os concretizar, mas a menina que, espero, nunca deixar morrer, vai levá-la a sonhar, sempre mais alto.

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A Inês Mourão é designer, também ilustradora, e na acção Je Suis Charlie deixou a sua contribuição. 

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publicado às 13:11

Quando ela vendia enciclopédias

por Cláudia Matos Silva, em 09.01.15

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Uma cidadã do mundo com apenas 18 anos, havia percorrido os locais mais interessantes da europa e em cada um desses destinos deixou amizades que se prolongam até hoje. Era boa miúda, sincera, muito sincera, às vezes áspera nos suas posições mas até isso a distinguia das demais da sua idade. Formada, acabou a licenciatura com excelentes notas e uma vez no mercado de trabalho andava à deriva. Num dia como qualquer outro fui a casa dela, brinquei com o seu cachorro no chão da sala, e como de costume, enchi-me de pêlos, e ela perguntou-me se não gostaria de a ajudar. Para tal, eu poderia ter imensas vantagens, mas apenas se o meu teste fosse superado pelas minhas próprias respostas ao inquérito que segurava nas mãos. Percebi, ela andava a vender/engrupir enciclopédias, mas com um método requintado. Se eu tivesse respondido o que era suposto, ao que percebi ser um inquérito faccioso, seria premiada com uma enciclopédia e o assunto ficava por ali. O que não convinha dizer, aceitar aquele prémio, implicava o comprometimento de 5 anos com a empresa a quem eu teria legalmente de pagar por actualizações ou novos capítulos das enciclopédias vindouras. Bem sei que ela precisava de uns trocos, mas preferia que me pedisse directamente dinheiro, por esse motivo, a nossa relação ficou em águas de bacalhau. A últimas vez que falámos, liguei-lhe a parabenizar por ter sido mãe e teve de desligar o telefone à pressão porque havia uma fralda borrada para trocar. Entendi, mas caiu-me mal, afinal havia perguntado com antecedência qual a melhor altura para ligar sem importunar.

 

Muitos anos depois, e com as redes sociais à perna, estabelecemos contacto. Ela já não vende enciclopédias, tem até uma vida invejável, uma moradia com piscina, trabalha apartir de casa, ao seu próprio ritmo, tem filho e marido. O que mais pode desejar uma mulher?

 

Aproveitámos para falar um pouco ao telefone, algo que noutros tempos fazíamos quase diariamente, e eu percebi naquele momento que a rapariga que vendia enciclopédias, mesmo sem as vender, continuava vivinha da silva e não gostei mesmo nada. Uma série de memórias do passado tomaram conta de mim e a lembrança de características que sempre me enfureceram em relação à sua forma de estar, afinal ela não havia mudado nada. Agora com dinheiro para grandes viagens, e sim continua a ser uma cidadã do mundo, mas na índole é exactamente a mesma. Enquanto fala comigo, mexe nos tachos, discute com o filho, grita com os amigos do filho e oiço ao longe o marido a ripostar, e eu, como noutros tempos oiço tudo aquilo e penso, há pessoas que nunca mudam e isso geralmente não é bom. Convida-me para ir lá a casa passar uns tempos, e mais memórias me agridem, as únicas vezes que tivemos um contacto familiar, terá passado o tempo inteiro em discussão com o companheiro, o actual marido. É embaraçoso a quem assiste, passados mais de 10 anos uma pessoa continua a ser o que sempre foi e nem sequer fez um esforço para se melhorar. E hoje não conseguimos ser amigas, e se preciso delas, mas não dá porque eu mudei, muito, e considero-me uma pessoa muito melhor, mesmo que pelo caminho haja feridas, mas lambo-as para sarar e delas resta uma cicatriz que nem se vê  a olho nú. Viver não é apenas deixar andar, é aprender qualquer coisa, ó menina das enciclopédias. 

publicado às 11:45

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