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'Um verdadeiro fidalgo como Orlando não precisava dos livros para nada. Ele que os deixasse, diziam, aos paraliticos ou moribundos. Mas o pior ainda estava para vir. Porque quando a doença da leitura toma conta do organismo, a tal ponto o debilita que o torna presa fácil desse outro flagelo que mora no tinteiro e supura na pena . O infeliz dedica-se à escrita. E se isto já é mau num homem pobre que não possui outros bens além de uma cadeira e uma mesa debaixo de um tecto carcomido - esse afinal não tem grande coisa a perder - a situação de um homem rico, que tem casas e gado, criadas, bestas e roupa branca, e mesmo assim escreve livros, é digna do mais extremo dó. Perde o gosto por tudo; trespassam-no ferros em brasa; rói-o a peste. Daria tudo o que tem, até ao último tostão (tal é a virulência do germe) para escrever um livrinho e ficar famoso; mas nem todo o oiro do Peru pode comprar-lhe o tesouro de um verso bem torneado. Por isso se consome e definha, dá um tiro nos miolos, vira a cara para a parede. Pouco importa a atitude em que o encontram. Ele transpôs as portas da morte e conheceu as chamas do inferno.'
("Orlando" Virgínia Woolf)
Depois de ultrapassada a fase autista do amor, mesmo perante claras adversidades, ignoradas, continuamos a acreditar que o amor tudo pode. Os poetas, de ontem, hoje e se ainda os houver amanhã são na verdade os grandes responsáves por esta cegueira generalizada. Os poetas, as suas palavras bonitas e sofridas passam desde sempre acima de qualquer suspeita, mas se os políticos nos manipulam negando o caos social e económico, os trovadores do amor não devem ser despenalizados. Se antes do dinheiro acredito no amor, seja amoroso ou fraterno, não creio que uma sociedade ignorando as verdades do amor esteja capaz de vencer as provações iminentes à condição humana. Se apenas nos apresentam o amor e o reverso, desamor, é claro que mais depressa baseamos a nossa existência em valores materiais, esquecendo que no fim das contas não é o dinheiro que levamos para a cova, mas as sensações, pessoais e intramissiveis e tantas vezes difíceis de descrever (até mesmo pelos habilidosos das palavras).
A esses poetas medievais ou contemporâneos, por favor, parem de enganar as pessoas. O amor é, por ventura a coisa menos romantica do mundo, e requer uma das características atribuidas a pessoas aborrecidas, bom senso. Depois da parolice dos primeiros tempos; cada nuvem é um coração palpitante, cada estrela parece nascida numa caixa de bombons e cada música de uma nova cantora pop nos enternece, chegam as primeiras provações e uma delas é reptílica porque não é evidente mas causa danos, às vezes irreparáveis. Por exemplo, quantas vezes ouvimos casais discutir por causa de um 'taparuere' ou outra trivialidade? Os casais tendencialmente discutem por coisas estupidas e quem está por fora não compreende. O problema é que eles também não entendem o que realmente se está a passar. A surdez ou intolerancia à voz do/ nosso/a amado/a é um facto comprovado cientificamente ou seja, os casais perderam a capacidade de se ouvir, literalmente. É natural que ao fim de um tempo, nos recordemos daquela avó surda a quem tinhamos de repetir as coisas duas e três vezes e que o grunhido 'hun?' já nos aborreça, mas há que lembrar que fazemos exactamente o mesmo e que do outro lado há igualmente uma pessoa cheia de fastio. É claro, há dias que se parte a loiça toda e por isso, para o estrago ser menor, discutimos sobre 'taparueres', mas se existe realmente amor no estado apurado, o bom senso é o melhor aleado, especialmente para situações de SOS.
Cartomâncias e outras artes do oculto, fascinam-me. Disponho-me a brincar 'ao faz de conta' se não me levarem mais de 10 euros. Nem por acaso, vi 'Magia ao Luar' do Woody Allen e cruzei-me com uma dessas encantadoras meninas, cheia de tiques capta a nossa atenção. Para não desmerecer o trabalho desta vidente, não direi o seu nome, acho que é uma profissão tão válida como outra. E se às vezes precisamos mesmo que nos afaguem o ego, se pagarmos para um desconhecido o fazer, a fórmula não tem como falhar. Às vezes armados em corajosos queremos que nos digam a verdade, somente a verdade, e minutos mais tarde estamos desconsolados, questionando-nos 'será mesmo assim?', porque ao fim das contas não é a verdade que queremos ouvir, essa sabemos de cor através do nosso subconsciente. Esta graciosa cartomante, é também uma bela actriz, diz-se constantemente em contacto com energias, forças, talvez guias (digo eu) que bichanam a mensagem ao ouvido para que a transmita ao 'papalrro' que dali a alguns minutos vai largar 10 euros, apenas porque sim. O que disse esta bela mulher, de modos delicados e unhas cuidadas, nada que eu já não soubesse, porque a vida de todos nós é feita exactamente das mesmas inquietações ou inseguranças. E quando se jogo pelo seguro, o tiro é certeiro. Mas confesso que depois de perceber que havia deixado 10 euros na rapariga dos maneirismos, debati-me com o problema de sempre, então e agora o que raio faço com essa informação? Melhor seria comer um pão com chouriço e caldo verde porque se procuro consolo, nada bate o calor de uma boa refeição no bucho, para que num ápice se faça luz e tudo o resto faça algum sentido.
Há nomes da cena artista nacional que reúnem concensos. A imprensa dita especializada não se cansa de os trazer em braços. Curiosamente, e nunca entendi, essas mesmas figuras, não têm da minha parte qualquer simpatia. E hoje, falando de uma delas e assumindo algum desinteresse nos seus feitos mediáticos ( e naturalmente consensuais ), saiu-me 'sem filtro' o seguinte comentário "não gosto, não sei porquê...mas talvez seja inveja". E riram-se como tivesse dito uma das piadas habituais, aquela manifestação revelou a mais pura verdade. Ser 'mulher invisível', passar entre as pingas da chuva pode fazer de mim uma perfeita ilusionista. Mas eu não aprecio a magia das mulheres serradas a meio e afins, então consomem-me sentimentos terrenos e mesquinhos. É claro que tenho inveja, só pode ser, mas a minha inveja, auscultei-a cuidadosamente, e é absolutamente inócua. Quase tão inócua como o meu propósito nisto tudo a que chamam...vida.
Não é revolta da que se gera em torno da mesa do café sobre 'tachos' ou 'cunhas' (até, sem vergonho assumo) gostava de ter uma 'mão' que me desse um empurrão, a força das ligações famíliares mais ou menos directa (e, um apelido conta, sim senhor), ou se tem um palminho de cara (quem não gostaria, bolas) ou o mais irritante dos argumentos, surge geralmente em fim de conversa e com os intervenientes bem regados a tinto, 'subir na horizontal' (porque na verdade cada um é que sabe o que está disposto para atingir os seus fins e deve ser respeitado por tal).
Posto isto, e se nenhum destes argumentos me interessante para a questão da incompetência, em que fico? Desconfio que não fico, mas há um ego machucado, sinto-me (por falta de reconhecimento) um papel arrancado à bruta de um caderno quandriculado (detesto cardernos aos quadrados, lembra-me matemática) transformado numa bola e atirado a um cesto no lixo, em jeito de truque artolas de basquetebol, e cada vez que vai ao cesto, afunda, sempre. E eu afundo, também, a auto estigma a derreter-se como manteiga e no fundo de uma série de camadas que me anulam como 'ser pensante' e de auto-estima em fanicos sinto-me profundamente ofendida. Ofende-me a hora do café, do cigarro, do telemóvel, do facebook e até do wc. Ofende-me porque, os tais, são encontrados entre corredores a roçar 'os reais rabos pelas paredes'. E esses mesmos indivíduos, ofendem-me quando faltam constantemente alegando, a piscina da criança, a reunião na escola, ou a festa de aniversário. Ofende-me, argumentarem uma vida familiar complicada, leva claro a dores de cabeça crónicas e muitas injeções sem resultado à vista, a mãe hospitalizada, a tia esquizofrénica, os apuros do conjugue e a reunião de condomínio.
E são estas as pessoas acarinhadas pelas entidades patronais. É a elas que se juntam os chefes, tentando pintar de negro histórias que na sua verdadeira essência não passam de farsas. O povo é fadista, e mesmo que não cante o fado da desgraçadinha, é desse sentimento de pobreza que vive para se alimentar no falnaço alheio. E afaga as mágos do que não cumpre as obrigações laborais, relegando-as para segundo plano e ouve-se 'o que interessa é que esteja tudo bem'. É claro que as coisas não podem estar melhores, por 7 horas de trabalho pelo menos 4 horas passam-nas num vão de escada e um manto (pintado à pressão) lembrando um xaile fadista, e a núvem de agoiro que as persegue para melhor encarnar a personagem. Direi que neste fado de vão de escada que são a maior parte das empresas, fala-se muito mal dos que cumprem e se mantém distantes. Porque o 'portuguezinho' (não o pequeno em estatura) se não sabe da vida alheia, inventa. E enquanto, o que só falta em casos de grande importância, e que não se nega a horas extras (se tiver de ser), é olhado com uma certa revolta pelos seus semelhantes, dizem, 'já viste, a trabalhar dessa maneira dá mau exemplo, se ela faz, quer dizer que nós também temos de fazer. Isso é habituar mal o patrão".
Não se preocupem pelo trabalho que vocês não fazem, outros o farão por brio profissional. O chefe jamais irá reconhecer o mérito desse 'pobre diabo', bem pelo contrário, irá sacrificá-lo quando for necessário (ou então porque sim), afinal é uma pessoa que tem-se revelado sem problemas, ainda por cima não é casada e sem filhos, também não irá ruir o mundo se não lhe pagar o ordenado a tempo e horas. 'Ela não precisa do dinheiro com urgência'. É por isso que vamos pagando, às pinguinhas, ao longo do mês, por ordem de quem tem realmente uma vida mal fadada.
E tenham como certo uma coisa. No dia que surgir alguém, num cargo superior, e ponha as coisas na ordem, para ele haverá apenas um título 'ganda filho da p*'