por Cláudia Matos Silva, em 24.02.14
Uma das muitas coisas boas em ser mulher, não nos melindramos por olhar umas para as outras, bem pelo contrário faz de nós atentas. Entre os homens, uma análise mais cuidada seja no balneário ou quando se enfrascam no tasco do bairro a ver futeboladasé passível de ter interpretações pouco abonatórias às respectivas masculinidades, que fazem questão de manter incólume. Nós mulheres borrifamo-nos para isso, vamos à casa de banho juntas, gostamos de nos olhar nuas, partilhar roupa e intimidades sem qualquer melindre. Uma vez a cabeça arrumada nada há a temer.
Quando olho para uma mulher, se olho e muito, adoro vê-las de cabelos curtos e desordenados. Lábios bem torneados mas com um simples gloss, base bem aplicada, sombra discreta, o blush mesmo nas maçãs do rosto e ali vai ela emanando frescura e assim dá expressão à máxima que agora se lê nas redes sociais "less is the new more".
Cortei o cabelo, curto, num estilo tão inquieto como a minha própria psique, mas a melancolia dos longos cabelos ao vento afecta-me todos os dias. Lembro a variedade de penteados que inventava, criações de trazer por casa e que tantas vezes saiam à rua para causar sensação. E agora, o que me resta? Ponho ganchos, bandoletes, lencinhos mas nada parece resolver esta nostalgia dos longos cabelos. Então num casual café com E., diz-me apenas que mulheres de cabelo curto revelam carácter e personalidade forte e que dificilmente são confundidas com as demais que se misturam entre a fila para o metro ou na passadeira quando o sinal verde se abre. Personalidade nunca me faltou, e embora admita que o corte de cabelo mais não tenha sido que um acto precipitado, é sem dúvida reflexo do meu carácter às vezes irreflectido e taralhoco, sempre soube que não deixaram de gostar de mim por tão pouco.