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A auto descoberta num croissant do Feijó

por Cláudia Matos Silva, em 10.01.14
Quando é que descubro que ainda não sei tudo sobre mim?
Quando é que tenho a certeza que irei manter até ao resto dos meus dias uma certa ingenuidade?
Na exacta altura em que acredito que conseguirei pernoitar sob o mesmo tecto que um gigante croissant reachado com creme de ovo. Atenção, croissant não é bolo da minha eleição e muito menos o doce de ovos, mas diz o povo, o que é doce nunca amargou e quando se trata de uma compulsiva alimentar todo e qualquer bem perecível serve para matar o vício. Por sorte, leram bem, sorte, estou magra. Atentem, estou magra, isso não quer dizer que eu sou magra, nada disso. A minha natureza é de mulher gordita, mas porque estou numa maré favorável tenho-me mantido magra apesar de todos os atentados à saúde. Como todos os gordos bem sabem, a culpa só surge depois do delito cometido e a tradição cumpriu-se quando devorei o gigante croissant, carinhosamente guardado no frigorifico para levar na madrugada seguinte como presente a S. Não me senti pior pessoa por ter recusado um presente a uma amiga, afinal, onde comprei aquele bolo há muitos mais à venda mas abateu-se a culpa e a agonia que raramente atormenta os verdadeiros sanguinários. E no momento que resolvo contar o episódio ao meu querido, relativizando o triste episódio adicionando algum humor como de costume (truque mais que sabido do gordo), sinto o olhar de desapontamento sobre a minha pessoa. Dizia-me, com tristeza estampada no rosto "como foste capaz de uma coisa dessas?" e repetia a frase vezes e vezes sem conta. Observei-me, talvez tivesse as mãos manchadas de sangue, será que tinha morto alguém? Ficaria o meu querido mais tranquilo se me encontrasse com outro em vale dos lençois? Ou a tentação da gula terá sido o maior de todos os meus pecados para aquele que até ao momento considerava o meu parceiro de crime, na vida.

publicado às 17:22

Eu sou do tempo que não era piroso gostar de Nelson Ned

por Cláudia Matos Silva, em 09.01.14
Eusébio é nome que não me suscita reacção, logo nem sequer chega a ser assunto neste espaço de real umbiguismo. Há muito quem fale dele, mas de Nelson Ned, os que lembram as suas canções romanticas, meio corados pela vergonha de tal arrebatamento, pouco ou nada se manifestam. Eusébio e Nelson Ned morreram Domingo, mas só um deles preenchia os meus domingos pela manhã. O meu pai tinha cassetes do cantar brasileiro e a minha tenra idade não me permitia filtrar ou criterizar. Ouvia o sr. Ned e aquele portento de voz, namorava a capa da cassete e aos meus olhos de criança baralhada, ele iria para a minha colecção de cromos de homens bem parecidos, onde constavam Rock Hudson ou Don Johnson. Aos domingos pela manhã ouvia compilações inteiras do que cantava com o coração e o meu pai ressalvava algumas letras como se tratasse de Pessoa ou Camões. Mas eram apenas histórias de amor e desamor, não fazia ideia do que falava, mais tarde passaria por todas as experiências cantadas (e outras tantas) por Nelson Ned. Em adolescente comecei a isolar-me no quarto, pedi uma aparelhagem e filtrei o meu som. Ned nunca entrou do meu leitor. Porque não era fixe, mesmo que às escondidas, a consciencia haveria condenar-me por escutar tal piroseira na escuridão do retiro. Mas Nelson teria afirmado um dia "o amor é que é brega, não a minha música". Todos que neste momento torcem o nariz a este post lembrem o ridiculo que já se exposeram por amor. Continuem despudoradamente a ser pirosos que eu vou ao youtube levar um banho revivalista do "piqueno" Ned.

publicado às 11:26

Boa terça-feira. Hun? Não é terça-feira? Quem disse?

por Cláudia Matos Silva, em 08.01.14
Já tinha como certo um "bad hair day" remediado com um dos muitos gorros para ocasiões como esta. Quanto ao resto não haveria muito a fazer, diz que é a "albarda que enfeita o burro", mas a burra nesta terça-feira foi com pinta de "homeless" para o batente. Não fica bem escrever coisas destas, ao que se pode chamar de figura "semi-pública" (não seremos todos?), mas o desânimo abateu-se sobre a minha moral ainda antes de ter aberto os olhos, pelo que tudo o que procedeu foi a confirmação daquela teoria popular "há dias que não se deve sair de casa". Como tinha mesmo de largar o ninho para assegurar um salário digno que alimente a sacadas de Purina, estes exemplares felinos dignos do Nat Geo Wild que se passeiam por casa, vesti uma espécie de pijama tentando enganar a sorte. Não entendo porquê mas os meus amigos adoram gozar com os meus ouvintes, sim pensei fazer deste blog anónimo para evitar este tipo de indescrições mas dava um trabalho dos diabos criar novo perfil, portanto assumamos, o meu público é muito especial, sim. Não é por isso de espantar que durante uma hora inteira me tenha referido ao dia de hoje como terça-feira e ninguém me desmentiu. E porquê? Porque para muito deles às sete da manhã, factualmente com uma directa em cima, ainda é terça-feira. Aproveitei para fazer a correcção mas várias pessoas, incluindo colegas, partilharam a mesma impressão. Realmente esta quarta-feira sabe a terça-feira. Que seja.

publicado às 13:55

Edredões de água

por Cláudia Matos Silva, em 07.01.14
O português, no fundo e tirando todas as tretas fadistas e fatalistas inerentes às ligações marítimas que a história deixou como herança,  é um romantico. Ou então simplesmente sádico. Mas como todas as projecções para a economia do nosso país dizem que este ano é que é, então seguimos a quimera desse bem tão precioso e esquecido a que chamo de positivar. Creio então que nós portugueses, que já pouco ou nada ligamos aos heróis do mar mas que hoje sonhamos quais heróis do asfalto equipados com luvas, cachecol e um gorro com berloque a descair na ponta. Na "voiture", ar ligado no máximo, não vejo um burro à frente do nariz, e os pneus deslizam pela estrada como um daqueles carros endemoniados dos filmes de terror e completamente descontrolados. A vista ficaria ainda mais entorpecida quando sou engolida por uma tromba de água. Por essa altura os vidros já desembaçados, noto uma senhora histérica a bracejar molhada que nem um pinto à beira da estrada, refaço-me com a desculpa romantica, lençol de água. Poesia logo pela manhã, por favor! Com aquela dimensão, não foi um lençol mas sim um édrodon, coisa que a outra senhora irá precisar nos próximos dias, juntado à cabeceira da cama uma série de medicamentos propostos pelo farmaceutico, mas julgo que não há como as mezinhas da avó. 

publicado às 15:11

Desorganizada mental

por Cláudia Matos Silva, em 06.01.14
São 4 da manhã e o telemóvel toca. Eu disparo da cama como uma mola do colchão. Os gatos olham-me incrédulos, expressão gélida para bom entendedor consigo ler nas entrelinhas "vai andando que a gente já te apanha". Agito frenética saudando os céus por não estar num desses reality show com cameras ocultas, observo-me de alto e parece que tenho um qualquer problema do sistema nervoso central, mas insisto porque a possibilidade de regressar ao quente dos lençois é tão paupável e assustadora. Os membros continuam a mexer, falo sozinha como os malucos, e sei, naquele momento, a bem da minha sanidade mental, ninguém poderá vir em minha defesa. Os gatos nunca dariam sequer um bigodinho por mim, especialmente desde que cortei a comida húmida, uniram-se contra a "bruaca", eu a que diariamente lhes limpa as caquitas da areia. Ingratidão, penso enquanto retiro mais uns croquetes fedorentos da caixinha. Ainda há tempo para varrer pêlos e cabelos no chão, lavar alguma loiça que ficou do dia anterior, pôr em ordem a correspondência, lembrando que as contas não se pagam sozinhas.
Ah? São quase 6 da manhã. Ainda falta fritar os ovos, fazer a salada, aquecer uma sopa e tomar o café. Os gatos já passeiam pela casa e um deles vai-se aos arames, a cauda solta leva uma pisadela entre o percurso do lava loiça e o micro ondas. Magoado bufa "má". Eu tenho a certeza que sim, sou má em muitas coisas e uma delas é na gestão do tempo. Quando irei aprender a fazer do tempo um elástico? Quando irei rentabilizar o tempo e encaixar todas as tarefas sem que a maior parte delas fiquem por fazer ou se atropelam?

publicado às 09:19

Esses animais!

por Cláudia Matos Silva, em 03.01.14
Democracia é principio que não se conhece lá por casa. Se às vezes julgo ser eu a ditar as regras, em poucos minutos percebo que não mando nada, especialmente quando me ponho mal para que outros fiquem bem. Entenda-se outros, não falamos da mesma espécie, bestas felinas, pelúcias andantes consumidas pelo capricho e cujo principal objectivo é lembrar-me que dentro daquelas quatro paredes eu não opino. Os bichos são dois, a bicha sou apenas eu e sobrevivemos diariamente a batalhas campais num terreno tantas vezes hospitaleiro quanto o terá sido a Normandia no dia D. A bicha hoje adormeceu de porta aberta, qual lontra no oceanário, barriga para o ar no leito refastelada, acordou com a mão numa espécie de pantufa com vida, acariciou-a para logo perceber que tinha dentes. Aos pés da bicha um outro animal ronronava encaracolado no maravilhoso mundo dos sonhos onde por certo seria o mais bravo dos caçadores do seu bairro. 
Levantei-me e a bicharada começou toda a mobilizar pedindo comida. Bem sei que estes dois animais nunca se irão entender mas nem que por acaso e mesmo contra minha vontade tenham entrado no quarto para me embalar no sono, partilhando os dois a mesma cama, deixa-me uma certa esperança para 2014. Bem sei que a esperança de um país faz-se com o orçamento de estado mas é assim a minha redoma cupcake, a fé faz-se em gatos desavindos para uma existencia melhor. Bom ano.

publicado às 08:13

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